Falaremos neste artigo sobre dois fatores importantíssimos para a Educação Física: a inclusão e a criatividade.
Iniciemos então, pela descrição de uma situação comum nas aulas de Educação Física escolar. O professor está trabalhando alguma modalidade esportiva com seus alunos, o voleibol, por exemplo. Ele pede que os alunos montem equipes de seis pessoas, coloca duas destas equipes para jogar, as outras quatro ficam esperando. Para haver uma maior rotatividade é estabelecido que a cada cinco pontos a equipe perdedora cederia seu lugar a uma outra que estaria aguardando. O professor fica de árbitro, fazendo com que as regras fossem seguidas a risca. Os meninos e meninas que já praticavam voleibol formam uma equipe mais forte, sendo assim, permanecem em quadra até o término da aula. As outras equipes no começo da aula estavam empolgadas, mas a grande maioria das pessoas, antes do término, haviam parado de jogar. Alguns preferiram sentar e conversar, cansados de tantas derrotas para a seleção da sala; outros não se incomodaram tanto com as consecutivas derrotas, porém se desmotivaram com a demora de quase 20 minutos para poder jogar outros poucos.
As possíveis conseqüências desta aula: primeiramente, aqueles alunos que já gostavam da modalidade continuariam gostando, já aqueles que não gostavam iriam cada vez gostar menos. Aqueles que gostam do esporte geralmente são também os melhores praticantes, assim, estes que necessitam menos de ajuda têm a maior parte da dedicação do professor, enquanto os outros que realmente precisam aprender são deixados em segundo plano. A longo prazo o grupo que participava pouco da aula vai desconsiderar a prática física como fator fundamental para uma vida saudável, achando - erroneamente - que exercícios físicos, ginástica e esportes são destinados somente ao seleto grupo de pessoas que têm certa aptidão física.
As aulas de Educação Física feitas desta forma podem ser consideradas exclusivas, porque privilegiam um pequeno segmento da população estudantil, deixando de lado pessoas que realmente precisavam de motivação para pegar o gosto pela prática física. As normas da prática esportiva na rua funcionam neste sentido. Quando um grupo de crianças vai jogar alguma coisa, escolhe-se dois líderes que serão os responsáveis por selecionar as equipes. Os piores vão ficando por último, e alguns até ficam de fora. Diz o ditado que "o único jogador ruim que pode jogar é o dono da bola". Pois bem, a Educação Física deve inverter essa máxima incluindo e incentivando a participação de todos, buscando para isso procedimentos que nivelem as habilidades individuais. Esta dado o primeiro passo.
O segundo passo consiste na resolução da seguinte questão: o esporte propriamente dito, seguindo as regras oficiais, como trabalhado pelo professor na aula exemplificada acima, pode desenvolver todo potencial criativo dos alunos? A resposta é um definitivo não! Apesar dos esportes terem vários pontos positivos enquanto prática física - desenvolvem o condicionamento, são motivantes, favorecem à sociabilização e estão fortemente enraizados na nossa cultura -, no quesito criatividade estão muito aquém do necessário. O principal motivo desta inibição na criação de movimentos são as regras já estabelecidas. A criança é obrigada a segui-las sem mesmo compreender a sua função dentro da modalidade. Portanto, o ideal é o trabalho com jogos pré-desportivos, nos quais os próprios alunos irão contribuir na construção das regras depois de sentir a sua necessidade dentro da dinâmica do jogo. Além disso, o professor pode lançar regras que evitem que aqueles alunos que possuem mais habilidades predominem sobre os demais.
A inclusão e a criatividade, não são elementos essenciais somente às aulas de Educação Física. Eles contribuirão substancialmente, na formação geral dos alunos, auxiliando, portanto, no entendimento da importância da cidadania. Esta, por sua vez, possibilitará que, posteriormente, aqueles alunos sejam cidadãos mais íntegros, colaborando na formação de uma sociedade mais justa.
Fonte: https://www.educacional.com.br